Tô sentada numa mesa de bar e um cara ouve Disritmia sem parar. Tô com vontade de mijar. Penso no homem que mais amei na vida. Meu copo tá cheio, bebo sei lá por quê. Hoje vi que tenho saturno em aquário e tô fodida, foi o que pensei de imediato. Um menino veio me vender amendoim, ri com ele, dei parabéns porque foi seu aniversário recentemente. Cheguei aqui no bar e pensei que gosto da vida que eu tenho. Fiz o que sei, amo os meus e detesto poucos. Gosto da rua, de amores de calçada e de relembrar o passado. Mas hoje me dei conta de que relembrar o que passou é um hábito, não um prazer. Sei lá, todo mundo sofre. O cara ainda tá ouvindo Disritmia. É claro que ele queria estar com alguém. Eu sigo bebendo. Não sei com quem eu queria estar. Quem eu amei não dá. Hoje em dia não amo mais, sem covardia, sem lamento, sem verdade. A vida é um samba de Aldir Blanc cantado numa tarde vazia, com o copo cheio. Sou do subúrbio, vibro com alguém cantando os exus catimbeiros, com a cerveja gelada e o dinheiro na conta. Já fui capaz de fazer loucura por alguém. Já fiz. Já me envergonhei. Já dormi e acordei achando que a vida é boa pra caralho. Já dormi e acordei achando que a vida não valia a pena. Vi que valia. Me encontro nas calçadas, nas vielas, nos becos, na ralé. Tenho preguiça dos que se sentem. Não sei lidar com elogio. Sou o Tempo, sou Oxum, sou Ogum me amparando. Há uma correnteza que me leva serena e outra que me arrasta. Sou o samba de Paulinho da Viola na madrugada de choro escondido, sou a letra de Nei Lopes num sábado de manhã, sou a voz de quem ama num peito batendo quando se acorda. Sou amor e ninguém vê. Que se fodam os que não enxergam. Sou beijo que se entrega e corpo que se dá no meio da noite. Quem tá comigo não dorme, mas acorda sorrindo. Há um riso que me embala. Sou o rio que corre, intenso e devagar. Eu preciso de um tempo grande num mundo onde toda gente é desconfiança. Quem chega até mim vê a cachoeira e o carinho. Disritmia. De vez em quando eu tenho. De vez em quando eu curo.

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