segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Para os homens que amei


Vieram cheios de passado
os homens que amei.
Sem que isto importasse,
talvez fosse eu a culpada
por me negar a quem chegava
sem histórias, papel em branco.

Vão agora sem que haja pranto,
depois de muito reencontro,
pouco que seja, vão andando
sem aceno, mágoa ou raiva;
quando quiserem, olhem
para trás (eu, outra, sempre
estou no mesmo lugar).

Se me ausento, é para não remoer
nem querer esquecer ou lamentar 
o que por vezes retorna, imerecido;
se sorrio, e eu sempre sorrio, 
é porque sei que fomos impulso
e que há lugares invisíveis onde
ficam guardados os meus Rios:

as ruas pelas quais passamos,
de mãos dadas, num abraço 
partido, em silêncios avulsos
ou algumas lágrimas caídas 
sob pandeiro na mesma roda
em que olho e bebo e laço.

Se foram cheios de futuro
os homens que amei.
Sem que lhes contasse,
mais futuro tinha eu: 
com um grande amor 
que parecia deles mas
no fundo era todo meu.

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