sábado, 19 de julho de 2014

Lá de Itaparica

Embora muita gente ainda não tenha notado, com o término da Copa e o retorno de um Campeonato Brasileiro nada motivador para os cariocas da série A, iniciou-se há pouco tempo o período de campanha eleitoral e algumas discussões começaram a ser esboçadas, ainda que vez ou outra estejam restritas a meras manipulações de dados ou a imperativos ditos de modo impetuoso.

Já li, como é costume ler nestes meses antecedentes às eleições, bem intencionados que incentivam o voto nulo como se ele fizesse parte da contagem de votos válidos. Certo dia, acredito ter sido no mês passado, deram de cismar numa conversa que a nulidade garantiria mudança no panorama político porque anularia as eleições por meio da demonstração da insatisfação dos cidadãos. Sorri um sorriso pontual, repeti que a anulação só ocorreria em caso de fraude e continuei a ver o noticiário.

Creio que o hábito de acompanhar o noticiário ao acordar, frequentemente em jornais eletrônicos, seja algum tipo de influência da minha avó materna, que vai todos os dias à banca e passa a manhã lendo jornal. Foi assim que, tomando café na sexta que findou, deparei-me com a eternidade que João Ubaldo Ribeiro alcançava por, de repente, ter ficado ausentemente presente. Lembro que há alguns anos eu vi o autor de Viva o povo brasileiro dizer que o boteco carioca é mais rico do que qualquer similar nacional ou estrangeiro porque servia para ele como inspiração e permitia-lhe maior contato com o mundo e com as pessoas. Deve ter sido nesse momento que o escolhi como um escritor que não poderia faltar nas minhas leituras.

A verdade, porém, é que ainda preciso ler muito das produções de João Ubaldo Ribeiro, porque a característica de aprender e reaprender enquanto são lidas as suas obras é o que faz com que a curiosidade não termine e a sua narrativa seja encantadora. Às vezes, quando fico meio em dúvida se gosto mais da ficção ou da história, acabo sempre constatando que gosto mesmo é da história que a ficção recria. E o autor baiano tem sua parte nisso, consagrado no romance brasileiro de forma emblemática.

Ademais, a brasilidade descrita no cotidiano, na improbidade mascarada, na beleza, na virtude, no viralatismo, na fé ritualística e na força inquestionável de Ogum na guerra faz com que a gente ouça comovido o samba da Império da Tijuca de 1987, uma homenagem àquele que veio lá de Itaparica. O que pretendo fazer, agora, é continuar absorvendo a influência de João Ubaldo Ribeiro, não só lendo suas publicações, mas também indo ao boteco, coisa que ele fazia quase todos os finais de semana.

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