A semana começou com um personagem-heterônimo que viajou a Lisboa depois de passar um tempo no Brasil. Disse-me ele que "sábio é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo" e eu fiquei a pensar no significado de "contentar-se": de um lado, o conformismo e a aceitação; de outro, a alegria e a emoção. Fechei o livro que citava a morte de Fernando Pessoa e lembrei-me de seu nascimento em 13 de junho.
Um dia antes, neste ano, vesti-me de verde e amarelo e fui à rua assistir à estreia da Copa. O espetáculo do mundo começaria com gols brasileiros e nós, espectadores, ficaríamos contentes com a partida. Mas é bom frisar que eu me contentei de alegria e não de conformismo. O extremismo de quem vê todo torcedor como alienado está longe de conhecer o sentimento que transcende qualquer fato, tese ou argumento, pois esse extremismo, em vez de ver e reparar os acontecimentos de modo dialético, enxerga-os a partir da dicotomia.
Ora, o problema da dicotomia é que ela exclui obrigatoriamente uma das partes, como se a Copa só pudesse ser boa ou ruim, e eu, particularmente, fujo das certezas defensoras de uma verdade absoluta. O que está ocorrendo no Brasil é histórico e confesso a vocês que, por estar acompanhando todos os jogos, falta-me tempo para escrever. Por isso, meu humilde conselho é que façam o mesmo e aproveitem os grandes e pequenos sopros de vida que o esporte pode nos proporcionar.
Percebam, então, que o futebol abarca em si o inesperado e o surpreendente, calando a exatidão da racionalidade. Há os que desejam o mau êxito do time brasileiro porque creem que isso servirá como espelhamento de uma nação fracassada, assim como acreditam alguns que a vaia à presidenta dentro de um estádio seja uma manifestação produtiva e de extremo bom senso. Torcer contra a Seleção e contra o Brasil, para mim, é perder-se no vazio das coisas exatas e cortar a corda infinita deste comboio chamado coração, que, lúdico, manda às favas a calha de roda. Que seja nossa a vitória.
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