Em certo trecho de "É a Ales", o ritmo da leitura me lembrou o da música "Streets of Philadelphia", que coloquei imediatamente para ouvir. Então me dei conta de que a música fala, com ar melancólico, sobre andar pelas ruas, sobre escuridão, sobre perspectiva indefinida. E é por aí que a narrativa do mais recente Nobel de Literatura caminha.
O que de início me parecia estranho - a estrutura dos diálogos e a reiteração da expressão "ela/ele pensa" - pouco depois se transformou em dinamismo e reflexão, respectivamente. Os personagens pertencem a épocas diferentes e estão numa confluência que afrouxa a noção de agora, antes e depois. Quem não mais existe está ali. E daí evoco o "penso, logo existo" de Descartes, lendo tantas vezes "ela pensa" ou "ele pensa". A narrativa faz com que todas e todos (co)existam. Curiosamente, a leitura de Jon Fosse também me leva à pergunta na voz de Caetano: "Existirmos, a que será que se destina?"
A relação entre Asle e Signe e as relações familiares presentes no romance nos conduzem a uma janela aberta sem paisagem, diante do breu, com as inquietações que os traumas, as indecisões e as impotências provocam. "É a Ales" tem a capacidade de abordar esses temas com a paradoxal delicadeza de uma revoada dentro de uma gaiola: não há espaço para tantas sensações, mas contraditoriamente elas se instalam e se movimentam. Talvez por isso um só período de tempo (passado, presente ou futuro) não seja o bastante para a narrativa.
O que de início me parecia estranho - a estrutura dos diálogos e a reiteração da expressão "ela/ele pensa" - pouco depois se transformou em dinamismo e reflexão, respectivamente. Os personagens pertencem a épocas diferentes e estão numa confluência que afrouxa a noção de agora, antes e depois. Quem não mais existe está ali. E daí evoco o "penso, logo existo" de Descartes, lendo tantas vezes "ela pensa" ou "ele pensa". A narrativa faz com que todas e todos (co)existam. Curiosamente, a leitura de Jon Fosse também me leva à pergunta na voz de Caetano: "Existirmos, a que será que se destina?"
A relação entre Asle e Signe e as relações familiares presentes no romance nos conduzem a uma janela aberta sem paisagem, diante do breu, com as inquietações que os traumas, as indecisões e as impotências provocam. "É a Ales" tem a capacidade de abordar esses temas com a paradoxal delicadeza de uma revoada dentro de uma gaiola: não há espaço para tantas sensações, mas contraditoriamente elas se instalam e se movimentam. Talvez por isso um só período de tempo (passado, presente ou futuro) não seja o bastante para a narrativa.

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