segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Carta a um grande amor, o Carnaval

Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil

Se estivéssemos juntos agora, no quarto estariam espalhados meus shorts coloridos, o glitter azul sobre a escrivaninha e a fantasia dos blocos de pré-carnaval já lavadas depois de tanto suor, gotas de cerveja, água e lama do asfalto sujo, além dos confetes que grudam para só descolarem da roupa no banheiro de casa. Os ingressos da Sapucaí, já comprados há muitos dias, estariam guardados onde eu sempre deixo, na lateral do armário. Minha ansiedade, que sempre é grande, estaria triplicada; Martinho seria homenageado pela Vila em poucos dias, afinal. 

Todos os outros anos eu repetia: não sei o que faria da vida se não tivesse você em fevereiro ou março, se não acompanhasse você até fevereiro ou março. Como prova, fiquei perdida desde o último Carnaval, sem ter direção que me encaminhasse para as quadras, para os ensaios, para o Mercadão de Madureira, para o Centro da Cidade e para os lugares onde ouço samba-enredo e bebo devagar minha cerveja. Muita coisa mudou em mim recentemente, é verdade, mas nada que diga respeito a você. Porque faz parte da minha essência perceber e gostar da mesma sensação boa de criança ao ver a fantasia de um grupo de bate-bolas, os portões das casas com serpentinas penduradas, as espumas espalhadas pelo chão, a rua inteira na minha frente pra eu andar, andar e andar, sem pensar em nada - ou pensando em tudo. 

Sei lá como é não estar por perto este ano. Fantasias guardadas, copos vazios, a lateral do armário sem ingresso algum guardado. Passar o início do ano sem andar de chinelo na Vinte e Oito enquanto os carros não transitam mais e toda a rua se enche de instrumentos de bateria, carro de som, torcedores e componentes é um troço muito esquisito. Ficar janeiro todo sem engatar um ensaio de escola de samba no outro é uma novidade que machuca, ainda que seja evidentemente necessária. Por aqui andamos muito machucados, alguns mais e outros menos, mas todos, sim, enfrentando os próprios medos - ou fugindo deles. Ando com uma saudade enorme da alegria, aquela que só você me traz, e quando existe algo ou alguém que nos proporciona uma alegria única, é porque tem bastante amor nisso aí. Ê, Carnaval, que falta que tu faz...

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