sexta-feira, 17 de março de 2017

Ouvindo Elis


Hoje me permiti ouvir Elis Regina, a aniversariante do dia, por um tempo, sabendo que seria difícil fazer isso. E explico por quê: há momentos na vida em que certas músicas acabam com a gente, da mesma forma que nos fazem renascer em outros instantes. Na parede da memória, há quadros que doem muito. Mas não sou ninguém diante de Elis. Que se dane toda dor. E a ouvi, já de início, me dando uma porrada com a letra de Belchior: "É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem". 

Na sequência, Romaria. Silêncio. A vida por vezes passa profunda no que se cala. Hoje o dia é de um sorriso composto da grandeza do que é miudinho, acolhedor e verdadeiro. A tarde cai enquanto lembro Carlitos, o maior, personificação do amor que aprendi a enxergar ao usar a menor máscara do mundo, o nariz de palhaço. Sou de um Brasil que sonha com a volta de tanta gente que partiu e choro junto de Marias e Clarices. 

Hoje me permiti ouvir Elis Regina por um tempo. Até que começou Canto de Ossanha, aquele que diz que "o amor só é bom se doer". Pergunte pro seu orixá. Vai, vai, vai. Não vou. Só vou se for pra ver uma estrela aparecer na manhã de um novo amor. Bolero de Satã. Com Cauby. Nada supera o grave dessa música. Ninguém superaria os dois juntos. E em "Andança", amigos, é Elis cantando o sucesso na voz de Beth Carvalho. É Brasil que não acaba. Uma saudade imensa. Me leva, amor. Mais uma vez a vida em verso encantado, coragem de deixar coisas pra trás e seguir em frente. Ou levá-las com a gente, porque saudade não é de amenizar rápido. Vivendo e aprendendo a jogar.

Hoje o dia é de um sorriso composto da grandeza do que é miudinho, acolhedor e verdadeiro, tal como ensinou a aniversariante deste dezessete de março. Que se dane toda dor. Que a gente pegue o trem azul, com o sol na cabeça. O sol pega o trem azul, você na cabeça. O vento que entra pela janela enquanto escuto Elis avisa que a tarde continua caindo, é quase noite. Redescobrir. Quando uma música une Gonzaguinha e Elis, podem ter certeza de que sou eu ali, menina, mulher, pequena, grande, frágil e forte, como se fora brincadeira de roda. Vou como a criança que não teme o tempo. "Tudo principia na própria pessoa". Quase choro, mas rio. 

Maria, Maria. Pra me lembrar que faço parte da turma que traz no peito essa marca e possui a estranha mania de ter fé na vida. É o que acontece quando se ouve Elis: parece que vai doer. E dói. Mas renova e a gente se reinventa. Porque é preciso ter manha, graça e sonho, sempre. Só tinha de ser com você. Obrigada, Elis.

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