domingo, 16 de outubro de 2016

Eu bebo pra esquecer


Foram 366 a 111 votos que garantiram a primeira aprovação da PEC 241 na Câmara dos deputados. Sabemos que um governo que já nasceu sem legitimidade não seria capaz de garantir a dignidade democrática, mas seu descaramento vem alcançando proporções surpreendentes. Congelar o salário mínimo e os gastos em saúde e educação — porque o governo, importa ressaltar, trata esses setores fundamentais como despesa e não como investimento — é uma alternativa pensada por quem nem de longe se preocupa com a população, sobretudo a mais pobre.

A ideia, portanto, vai totalmente contra à concepção de Estado social. Roberto Leher, reitor da UFRJ, explica que a aprovação dessa proposta implica “fundamentalmente o fim da gratuidade das universidades públicas; a desvinculação de receitas tributárias para a educação e saúde, uma redução da universalidade do SUS, o que significa obviamente que o SUS deixaria de ser um sistema universal, e a desvinculação dos benefícios sociais da seguridade em relação ao salário mínimo”. O que temos, então, é “um conjunto de medidas que expressa de forma contundente uma quebra nos principais direitos sociais assegurados na Constituição Federal de 1988”.

Em tempos de segundo turno municipal, é curioso observar que o partido do candidato que afirma priorizar a saúde e a educação em seu governo votou completamente a favor da PEC 241. Os deputados do PRB, partido de Marcelo Crivella, se juntaram à Casa Grande para prejudicar justamente as pessoas das quais sua campanha eleitoral promete cuidar.

Cuidar das pessoas se torna um desafio ainda maior, porque se aproxima do impossível, quando há defesa de corte de gastos em áreas essenciais para o cuidado com o outro. O desânimo proporcionado por esse cenário político de desolação e desesperança me leva à música de Argemiro Patrocínio: “eu bebo pra esquecer, mas nem assim”.

Mesmo não adiantando muito, é o que farei neste primeiro domingo em horário de verão, dia reservado ao Pier Mauá. Acaba hoje o Mondial de La Bière, esse paraíso onde a gente bebe e come bem. E com a sede de anteontem que eu estou, é pra lá mesmo que eu vou.

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