terça-feira, 6 de setembro de 2016

Batidas na porta da frente

Foto: Adhemar Veneziano

No dia dos setenta anos de Aldir Blanc acordei ouvindo “Resposta ao tempo” na voz de Nana Caymmi. Sou filha de Tempo, há folhas no meu coração. Não me lembro com exatidão do momento em que me encantei pelas letras do Aldir, mas possivelmente remete à época em que comecei a ouvir “O bêbado e a equilibrista” sem parar, minha música preferida. Foi quando comecei a pesquisar e admirar a história do PT, a me identificar com Betinho e Henfil, a me posicionar conforme os que resistem e subvertem. Foi também quando descobri que Brizola seria minha referência política. Brava gente brasileira.

E já que a crônica enveredou pelo caminho político, aproveito para deixar aqui os nomes que são referência apenas para passar longe de intenção de voto. Há quem dedique uma atenção a eles, é verdade, mas finjo agora que meus poucos leitores, todos, entendam que foi golpe, porque de fato foi, o afastamento de uma presidente legítima: Acir Gurgacz (PDT-RO). Aécio Neves (PSDB-MG). Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Alvaro Dias (PV-PR). Ana Amélia (PP-RS). Antonio Anastasia (PSDB-MG). Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). Ataídes Oliveira (PSDB-TO). Benedito de Lira (PP-AL). Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Cidinho Santos (PR-MT). Ciro Nogueira (PP-PI). Cristovam Buarque (PPS-DF). Dalirio Beber (PSDB-SC). Davi Alcolumbre (DEM-AP). Dário Berger (PMDB-SC). Edison Lobão (PMDB-MA). Eduardo Amorim (PSC-SE). Eduardo Braga (PMDB-AM). Eduardo Lopes (PRB-RJ). Eunício Oliveira (PMDB-CE). Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE). Fernando Collor (PTC-AL). Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Gladson Cameli (PP-AC). Hélio José (PMDB-DF). Ivo Cassol (PP-RO). Jader Barbalho (PMDB-PA). João Alberto Souza (PMDB-MA). José Agripino (DEM-RN). José Aníbal (PSDB-SP). José Maranhão (PMDB-PB). José Medeiros (PSD-MT). Lasier Martins (PDT-RS). Lúcia Vânia (PSB-GO). Magno Malta (PR-ES). Marta Suplicy (PMDB-SP). Omar Aziz (PSD-AM). Paulo Bauer (PSDB-SC). Pedro Chaves (PSC-MS). Raimundo Lira (PMDB-PB). Reguffe (sem partido-DF). Renan Calheiros (PMDB-AL). Ricardo Ferraço (PSDB-ES). Ricardo Franco (DEM-SE). Roberto Rocha (PSB-MA). Romário (PSB-RJ). Romero Jucá (PMDB-RR). Ronaldo Caiado (DEM-GO). Rose de Freitas (PMDB-ES). Sérgio Petecão (PSD-AC). Simone Tebet (PMDB-MS). Tasso Jereissati (PSDB-CE). Telmário Mota (PDT-RR). Valdir Raupp (PMDB-RO). Vicentinho Alves (PR-TO). Waldemir Moka (PMDB-MS). Wellington Fagundes (PR-MT). Wilder Morais (PP-GO). Zezé Perrella (PTB-MG).

Acredito que esse último foi o maior parágrafo de uma crônica minha até hoje, mas ao menos condiz com o tamanho da falta de caráter de muitos de nossos senadores. Diante de tantos discursos respaldados por invenções e desinvenções avessas a crime de responsabilidade, houve até quem tenha colocado Deus no meio. A voz de Almir Guineto ecoou como nunca: “Deus já deve estar de saco cheio”.

Mas o samba a que quero aludir agora é o do ronco da cuíca que ronca de raiva e de fome. A nível de alegria, estamos comemorando os setenta anos de um brasileiro máximo. Não sei pensar minha cidade sem o letrista tijucano. No Renascença, a parceria entre e ele Moacyr Luz nunca falta. Dá saudades da Guanabara, pra só doer quando eu Rio, e eu recordo que “a Zona Norte é feito cigana lendo a minha sorte”. Cai a tarde, um bêbado de luto lembra Carlitos e, lá em cima, “estrela é só um incêndio na solidão”. Ainda que haja tanta incompatibilidade de gênios por aí, “todo boêmio é feliz porque quanto mais triste, mais se ilude”.

O Rio de Janeiro se salva com Aldir Blanc colocando no mesmo barco realidade e poesia. Meu peito, lona armada, sabe o valor da boemia e das vitórias da ilusão. E sabe, sobretudo, que “nada se acaba quando é feito por paixão”. Me dá a penúltima, em homenagem a Aldir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário