Fiquei com preguiça de fazer a minha, mas andei lendo algumas análises sobre a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos: opiniões que ora elogiavam, ora reclamavam. De um lado os que se preocupavam demais com a imprensa internacional, de outro os que sabem que festa nossa tem de ser boa é pra gente mesmo. Assim como a cidade, por exemplo, deve ser avaliada por quem vive nela diariamente, e não por quem visita, faz umas selfies e vai embora. Mas isso é outra história, que daria portanto nova crônica.
Um espetáculo, como foi o que vimos ali no Maracanã, impressiona pela beleza. Os ensaios e as coreografias, a estrutura e o projeto, tudo tem a capacidade de prender a atenção. Mas o que encanta, o que mexe com a gente cá dentro não tem a ver com a grandiosidade da pirotecnia, e sim com a miudeza da tradição que o pai me disse que é lanterna. Bem mais que o modernoso, como canta Moacyr Luz às segundas.
O que me encantou, o que mexeu comigo cá dentro foi Paulinho da Viola, com banquinho e violão, cantando o hino nacional, tão diferente dos que o entoam em manifestações juninas. Porque quando Paulinho cantou eu ouvi o Brasil que valoriza sua cultura popular; que se reinventa por meio do riso; que encontra espaço pro sagrado e pro profano; e que troca esta terra de doutor por uma terra que valoriza o sambista.
E nela eu vi Wilson das Neves lembrando a batucada na caixinha de fósforo, vi chama que não se apagou nem se apagará, vi águia sobrevoar Madureira, vi menino pegar manga na mangueira. Coisa fina, sinhá, que ficou ainda mais bonita com os passos do pequeno Thawan Lucas, que mostrou a elegância do samba aos oito anos de idade. Depois de assistir a isso, a gente concorda mais uma vez e sempre com a voz de Candeia afirmando que "vive melhor quem samba".
Vive melhor também quem cria alternativas pra adequar a cidade que temos à cidade que queremos, numa resistência que se assemelha às palmas dos batuqueiros da Festa da Penha quando foram proibidos de usar seus instrumentos musicais. A comoção de ver Wilson das Neves e Paulinho da Viola na cerimônia de abertura, sobretudo pelo que ambos representam, se parece com a que muita gente teve ao acompanhar o tour etílico da tocha.
Passando pelos bares de Copacabana e terminando no Sat’s pra reverenciar Agnaldo, garçom e churrasqueiro do bar, o povo cachaceiro reafirmou que meu Brasil é feito de gente assim. E é por esse Brasil que eu torço e choro e vivo.
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