sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Não tem jeito

Saí da Barão de Drummond pra ver um samba nascer. Chapéu branco, bermuda branca, sapato branco e a camisa da Vila Isabel ao meu lado. Alguém que também andava pelas calçadas do Boulevard conversava com dois amigos no banco do ônibus. Me lembrei do último campeonato, da minha voz quase-não-voz de tanto grito, da alegria que a lágrima manifesta. Eles falaram de Martinho e do bairro de Bento Ribeiro. 

Eu, feito criança vidrada no preferido brinquedo, vi e ouvi com admiração. "Tem que escrever!", disse um deles, tirando do bolso a caneta e procurando qualquer coisa que servisse como papel. Era mais uma letra azul-e-branca nascendo. A gente, que escuta Nelson Sargento cantar, já sabe que, mesmo agonizando, o samba não morre. Havia até instruções de escrita de quem já tinha mais intimidade com a coisa: não põe três pontos, samba não é assim, samba é direto. Anotado.

Fui parar de novo na 28, como de costume. Alas e compositores, baianas e carros de som, festa no Petisco, cerveja gelada no Costa e rua cheia. Desapeguei dos meus por um tempo e vi tudo só. Surdo, cuíca e tamborim à minha frente. Fiquei dentro da bateria com a canção e o coração, can-ção, co-ra-ção. Dá vontade de voltar sempre – é a emoção que puxa, que decide e que mostra o porquê da torcida por uma escola. Paixão é assim mesmo, a gente não quer nem saber, só sabe que é.

Não é à toa que o Moacyr Luz canta "Vila Isabel, meu Deus, como tu és de chorar de emoção" no início de um dos meus sambas preferidos. E eu já espero, com a ansiedade peculiar dos desesperados, o momento de ver a azul-e-branco entrar na Avenida, de novo sorrindo, deixando no ar a mais bela sinfonia. Martinho, em seu último show, falou sobre vitória e o povo de Noel, comovido, encheu de esperança o peito. Sou da Vila, não tem jeito.

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