sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sobre o dia 20 de junho de 2013

A impressão que ficou, e infelizmente não só para mim, foi a de um mar de gente que saiu de suas casas para bradar cantos esvaziados de sentido na Presidente Vargas. A emoção que senti por um ínfimo tempo diz respeito ao que estava sendo feito, mas não ao "como" era feito. Caminhei até a Prefeitura calada na maior parte do tempo. Gritei algumas vezes e me juntei a muitas vozes. No entanto, a incerteza e a dúvida, por mais que eu não as quisesse, teimavam em aparecer e reaparecer na minha frente.

Eu fui à rua em busca de mudança, munida de ideais, esperançosa com tudo o que estaria diante de mim (e sei que muitos ali estavam sentindo o mesmo!), mas o que vi foi uma deturpação generalizada do ato. A junção de uma quantidade enorme de pessoas é algo importantíssimo, e eu pensava isso enquanto estava no meio delas, só que grande parte demonstrava, em vez de uma consciência política que possa dar à sociedade iluminação, uma revolta contra-tudo-e-contra-todos que só contribui para a escuridão. Faltavam argumentos para defender muitos gritos aleatórios.

Comecei a ver estranhamento já no nome do protesto, ou no propósito do mesmo, que era marchar contra a corrupção (quem se diz a favor dela, afinal?). E tudo começou a desandar, para mim, quando impediram a presença das bandeiras de partidos, porque a coisa ficou contraditória e grave: se o papel era lutar em favor da justiça e do âmbito democrático, por que seria silenciada a pluralidade de ideologias? Quem reitera esse discurso é o reacionário, o fascista. A ação truculenta de agredir um militante não vem dos que apoiam a alteridade própria da democracia, mas vem, sim, do autoritarismo.

Além disso, a adesão ao "Fora, Dilma!", desde que a vi acontecendo, só aumentou minha preocupação. E eu fiquei decepcionada ao ver isso sendo entoado ali, num protesto que seria para reivindicar avanços. Impeachment. Não podia ser sério. O extremo conservadorismo também adoraria que o PT saísse do poder (não condeno as críticas ao partido e acho sim que elas devem ser feitas, mas não é possível que não haja o reconhecimento de que significativas mudanças aconteceram com ele). Não fui às ruas, portanto, para juntar-me às vozes do "Fora, Dilma!".

Ainda cabe a nós, é claro, pensar sobre a ação perversa e truculenta da Polícia. O que aconteceu ontem pode ser interpretado, de certa forma, como uma irradiação geográfica do que ocorre a todo momento nas favelas: criminalização de inocentes. Com muito esforço, o direito de estar nas ruas foi conquistado, mas ele segue sendo desrespeitado. Por meio de muita luta, também, conquistamos os Direitos Humanos, mas as pessoas continuam sendo brutalmente violentadas. Não podemos retroceder, mas a maioria de nossos policiais só contribui para o retrocesso. 

Participantes da manifestação ficaram presos no IFCS, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, e na FND, Faculdade Nacional de Direito, porque o BOPE, a Cavalaria, o Choque e o Caveirão estavam do lado de fora, causando um caos imensurável nos arredores. O hospital Souza Aguiar recebeu bomba de gás lacrimogêneo e o Circo Voador também. As pessoas que estavam na Lapa ficaram reféns dos policiais, que aterrorizavam a cidade. A Polícia do Rio de Janeiro precisa de reforma pra ontem e o debate sobre sua unificação urge ser fomentado. Ao contrário do que grande parte da mídia mostra (e ela odeia o Brasil, porque odeia o povo brasileiro de que nos fala Darcy Ribeiro), o vandalismo também veste farda. 

No mais, existem muitas reflexões a serem feitas acerca dos fatos e, principalmente, acerca das ideologias que eles envolvem ou da falta delas. As manifestações passaram a ser palco de muita gente que enxerga o voto nulo como protesto; de muita gente que propaga o ódio; de muita gente que queima a bandeira brasileira e diz ter saudade do período ditatorial. O pensamento reacionário está apropriando-se do revolucionário e, com o crescimento disso, o resultado das reivindicações pode ser justamente o oposto de sua intenção inicial. Vivemos um momento de tensão, mas, sobretudo, de atenção. Estejamos atentos.

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