Não venho de uma família leitora, que possuía estante de livros em casa e me indicava livros para ler na infância. Meus pais, que têm outra formação, outro entendimento de mundo, trabalhavam muito para me manter na escola - fato que, além de tantos outros, me faz ser eternamente grata aos dois. E meu universo de leitura foi se construindo no ambiente escolar, ainda que nem fossem muitos os livros lidos também no colégio. Quando pequena, causava estranhamento em casa por pedir livros no Natal, ainda mais porque eu dizia não gostar daqueles com imagens, queria livros grandes, só com letras. Fui uma criança que não ligava para as histórias em quadrinhos, embora adorasse o Almanacão de Férias da Turma da Mônica, que me deixava horas colorindo desenhos.
Lembro bem os dois livros que marcaram minha infância: "As cores de Laurinha", que vi um dia com a minha prima, era uma leitura exigida pela escola dela, e diante do meu interesse ela me deu o livro de presente, disse que já tinha lido e que não precisaria mais dele; e "O menino maluquinho", que ganhei de um primo no dia em que a família estava toda reunida na casa do pai dele - em pouco tempo eu interrompia a conversa dos adultos para dizer que o livro era muito legal. "Você já leu o livro todo? Mas você acabou de ganhar!", me disseram os adultos, espantados.
Só fui ler mais, mesmo, quando pude passar a comprar meus livros, a montar minhas estantes, a trilhar minhas metas de leitura. Desde sempre entendi que meu mundo é feito de letras, livros, palavras, papéis. São elas/eles que me ensinam, me acalmam, me intrigam, me orientam. Não à toa me formei em Letras, me tornei professora, fiz mestrado em Literatura e comecei o doutorado também em Literatura. Minha vida é virar a página.

Nenhum comentário:
Postar um comentário