Vieram cheios de passado
os homens que amei.
Sem que isto importasse,
talvez fosse eu a culpada
por me negar a quem chegava
sem histórias, papel em branco.
Vão agora sem que haja pranto,
depois de muito reencontro,
pouco que seja, vão andando
sem aceno, mágoa ou raiva;
quando quiserem, olhem
para trás (eu, outra, sempre
estou no mesmo lugar).
Se me ausento, é para não remoer
nem querer esquecer ou lamentar
o que por vezes retorna, imerecido;
se sorrio, e eu sempre sorrio,
é porque sei que fomos impulso
e que há lugares invisíveis onde
ficam guardados os meus Rios:
as ruas pelas quais passamos,
de mãos dadas, num abraço
partido, em silêncios avulsos
ou algumas lágrimas caídas
sob pandeiro na mesma roda
em que olho e bebo e laço.
Se foram cheios de futuro
os homens que amei.
Sem que lhes contasse,
mais futuro tinha eu:
com um grande amor
que parecia deles mas
no fundo era todo meu.
