segunda-feira, 8 de maio de 2017

Nos Fla-Flus


Eu ainda tô respirando Fla-Flu. Acabei de assistir novamente ao excelente documentário “Fla x Flu - 40 minutos antes do nada” e me arrependi de ter perdido tantos Fla-Flus. Me arrependi de não ter ido aos jogos da época em que nem era nascida, e também de quando era criança (meus pais não me levavam ao Maracanã, eu que levei os dois). Só não vou nos próximos se estiver morrendo. Como vocês ainda vão ter que me aturar por muito tempo neste mundo, porque se tem uma coisa que eu gosto é de viver, estarei em todos.

Revendo o documentário, tive até vontade de abraçar Assis, o Carrasco. Assim como tive vontade de abraçar o Zico, o Leandro, o Júnior. A comemoração de gol do Maestro na final do Brasileiro de 1992 tá eternizada num boneco que fica na minha estante. Todo dia eu olho.

Quando falaram em tom de brincadeira com o Bial sobre o gol de 1995 do Renato, que se ele estivesse de cinta não o faria, Bial replicou: “E você já viu alguém jogar de cinta?”. No Flamengo já jogaram, há muito tempo, lá em 1927. Contam que Moderato tinha feito uma cirugia e meteu uma cinta abdominal pra entrar em campo e ser campeão em cima do América. Não era Fla-Flu, mas era muito amor ao time.

E o que importa no futebol, assim como na vida, são as nossas paixões. É o que nos impulsiona, o que nos move e o que faz a gente ser exatamente o que é. Fla-Flu é coisa séria. Não tem nada melhor. E que bom que nessa história o meu lado é rubro-negro. A emoção é enorme, tal como o bom humor, sobretudo porque somos campeões.

Um beijo aos vitoriosos amigos rubro-negros. E aos tricolores, conformados ou inconformados com a derrota de ontem, também. Sem vocês a gente não vive (até vive, mas não com tanta emoção).

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Canto a palo seco


“Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida”, disse a um amigo enquanto a roda de samba comandada pelo Chico Alves animava o Trapiche. E me senti incomodada quando me dei conta do que eu acabava de dizer naquele domingo. Belchior havia partido e o dia era de tristeza. Nos bares, bebiam Belchior; na Casa Porto, onde muito me arrependo de não ter ido, viviam Belchior; no Trapiche, sorrimos Belchior. Tudo é maravilhoso, nada é maravilhoso.

Eu ainda estava com o olho meio aberto, meio fechado, próprio da preguiça das manhãs de domingo, quando soube de sua morte. Confesso que nunca fui de ouvir muito suas músicas, mas passei o dia todo escutando. Lamentei não ter ouvido antes tantas e tantas vezes o coração selvagem que é exatamente como o meu, que tem essa pressa de viver. Nunca quero o que a cabeça pensa, mas sempre o que a alma deseja.

Com o Trapiche lotado, Chico Alves lançou um canto a palo seco que uniu vozes e sorrisos fundidos no pranto da criança que fomos e que ali recuperamos. Dançamos, cantamos e fomos felizes, como raramente temos conseguido ser neste tempo de silenciamento ao nosso grito desesperado em português e de repressão ao exercício democrático.

Percebi, então, que o que tornava aquele dia assustadora e despretensiosamente bom era a reunião de pessoas que acreditam, em meio à desesperança, na voz belchiorana que nos diz, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer. Descobrimos que Belchior vivia em cada um de nós, sabendo que o amor é uma coisa boa, e não estava proibido, portanto, ser esse um dos dias mais felizes da minha vida, porque, aliás, tudo é permitido, até beijar você no escuro do cinema quando ninguém nos vê.

Eu queria um gole de cerveja no seu copo, no seu colo e nesse bar, mas fui buscar esse gole no Sats, única saideira possível. Entre um e outro papo, entre um e outro chope, entre um e outro beijo, entre uma e outra saudade, amanheci implorando à vida que pisasse devagar: “Meu coração, cuidado, é frágil”. Porque sou de deixar de lado as certezas e arriscar tudo de novo com paixão.