Já cedo eu passava pelos Arcos naquele sábado de julho. Apreensão notória do desconhecimento, chão molhado de chuva, pés na Fundição Progresso. Só havia estado ali à noite, em qualquer show dedicado ao samba, à tristeza que balança. De lupa na Lapa, já vaguei pela Mem de Sá ao som de Moyseis Marques.
Mas naquela manhã de sábado eu divagaria. E a gente tem medo de. Alguns turistas nos Arcos, a vista do bonde, a porta aberta e o coração fechado. Timidez de falar com quem não conhece, talvez confundida com antipatia, pouco papo, leves sorrisos e ainda a apreensão. Paspalhos diante do Messiê, picadeiro à frente, cortina vermelha escondendo o espelho. Aperta o start.
Voltei pra casa com pranto no peito por ter visto Carlitos, a solidão e o amor. Em casa, abraço quem não vivo sem, falo de amizade como manifestação do amor e escrevo a quem tem meu carinho, outra forma de amor. Perdão pela repetição da palavra que Drummond mandou não ser pronunciada, leitor. Tem muito "amor" nesse parágrafo porque era só isso que eu sentia. E sinto.
Domingo, mais um dia de ver os Arcos. Chorei com meu nariz de palhaço, a menor máscara do mundo, e com a minha imagem refletida na criança que voltei a ser. Ela apareceu no espelho e me deu a certeza de que sou pequena. Como diria o principezinho de Saint-Exupéry, as pessoas grandes precisam sempre de explicações, porque nada entendem, afinal. Não se compreendem, inclusive, neste mundo de adultos que não podem ser frágeis.
Acontece que a fragilidade, quando revelada, faz de nós especiais para quem a vê. É por isso que sorrimos de imediato ao nos depararmos com o olhar puro de um bebê na nossa direção. E o que eu quero, depois de me mostrar pequena para todos, é me deparar sempre com um olhar puro na minha direção. Assim sou capaz de saber que, no meu mundo, os adultos também podem ser frágeis e, portanto, fortes porque profundamente humanos.
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