terça-feira, 11 de julho de 2017

Pelos caminhos do mar


Havia um barquinho lá longe, onde a onda quebrava. A lua que embranquecia a escuridão da noite apontava para os cabelos pretos caídos nos ombros dela. As mãos abertas, como se dissesse que tudo aquilo era seu. Na minha cidade todo mundo é de Oxum, mas foi essa a história que o pescador me contou e me encantou.

Fiquei embaixo da cachoeira pensando como devia ser bonito ver o mar agitado mas sem força pra derrubar o barco. Qualquer outro seria derrubado, mas aquele não podia. Teve gente que não viu, que olhou na direção indicada pelo pescador mas nada conseguiu enxergar. Devia ser saudação a ele ou recado de que a calmaria não demoraria a chegar.

Há poucos dias, enquanto caminhava pelo Largo do Machado depois de escutar samba e ijexá, parei numa roda pra ouvir o batuque dos tambores de Olokun na rua. Saias rodadas, guias brancas e azuis, sorrisos de festa, coro entoado e maracatu. Era o Brasil no qual eu acreditava e do jeito que sempre vi. Na beira da praia, ouvindo as pancadas do mar. E ela apareceu. O mar cintilado, a água prateada, alumiada a gente. Foi o que cantaram os tambores.

De vez em quando eu admiro o mar e penso na imensidão da vida; lembro a história do pescador e ouço baixinho o batuque de Olokun. O vagar das ondas e o divagar da vista se perdem entre as águas. Embora muitos não vejam, há barcos que não viram com pancadas fortes, que seguem adiante. Eu fico na beira da praia, com os pés molhados na areia, ouvindo as histórias de pescadores e a música de Caymmi. É bonito aprender que o vento sopra o destino pelos caminhos do mar.