sexta-feira, 17 de abril de 2015

Pangloss às avessas

Nesta semana, enquanto assistia ao programa do Caco Barcellos, profissional que atribui ao jornalismo a dignidade que geralmente outros descartam, foi interessante ver a discordância de dados que os deputados arriscavam para tentar justificar a necessidade de reduzir a maioridade penal. Números aleatórios – e bem distantes uns dos outros – foram ditos para afirmar que os crimes são cometidos majoritariamente por menores de idade. O resultado disso é óbvio: seus discursos estavam equivocados.

O problema, nesse caso, é o interesse que possuem de continuarem enganados (e, consequentemente, enganando) e o desinteresse de fundamentarem suas teses com respaldo na realidade. Reforçam primeiramente o que desejam e só depois buscam uma justificativa. Vejam vocês que, ao escrever esta crônica, acabo me deparando com o pensamento de um filósofo do século XIX, idealizo algumas divagações a serem feitas, e concordo mais uma vez com Schopenhauer. Numa cultura que privilegia a razão, a verdade é que ela dificilmente é privilegiada, porque se submete, a todo tempo, à vontade.

Some isso, ainda, ao fato de termos o Congresso mais conservador desde o período ditatorial. Religiosos, militares, ruralistas, todos estão lá para defender suas vontades, ainda que para assegurá-las seja preciso lançar mão da invenção e do imaginário como razão. A falta de espaço para o diálogo e a perpetração da intolerância são aspectos que fazem com que tenhamos, ali, uma espécie de Pangloss às avessas, com o objetivo de apresentar para os cidadãos o pior dos mundos, onde sequer cabe o otimismo.

Voltando ao assunto anterior, no entanto, saiba o leitor que surgem também vontades em quem agora escreve. O texto poderia terminar com algumas considerações sobre discussões absurdas que andam promovendo, como a defesa do projeto de lei da terceirização do trabalho no Brasil, mas deixemos isso para outra hora, porque tenho de escutar o livro de poemas que comprei ontem autografado.