Não cabia naqueles olhos de menina tamanha grandeza. Precisava da ajuda de outras vistas pra conhecer o Pedro II. Era deslumbramento o que acontecia. Espanto. Será que alguma vez se perderia ali dentro? Como seria capaz de conhecer tanto lugar num lugar só? Quem chamaria, se não soubesse onde estava? Não deixava de ser uma viagem em busca do desconhecido.
Fila pra cantar o hino. Um hino do próprio Colégio? Outra vez deslumbramento. Às vezes o som silenciava como se a roda do relógio não estivesse girando. Tempo correndo sem pressa. Acelerado o tempo, o coração. Tempo de outra vida, passando depressa. Vamos, meninos, vamos subir a rampa para ir às salas. Daqui a pouco as aulas começam. Mais uma vez espanto. Eram outras vistas que a ajudavam a enxergar o que ainda não cabia de todo na sua.
Passaram os dias. Batidas na porta da frente. Soube o que é ter histórias engraçadas pra contar. Apaixonou-se. O desconhecido da vida se apresentava ali. A amizade, o carinho, a admiração e o respeito foram aprimorados. Subiu as escadas do pátio, a rampa pra Unidade III. Espanto não mais havia, mas deslumbramento, sim. A todo momento.
Outra vida? Mesma vida, novo olhar. As responsabilidades e as decisões se aproximavam. Um dia, afinal, a gente acaba tendo de pôr um ponto no curso do rio. Mas escolhera botar mais dois pontos. Queria a terceira margem. Era muito apegada ao que não acaba, ao que permanece, ao que continua com as reticências. Amou. Ficou por vezes sentada no banco do pátio, entre os pombos, vendo como era bom não ver o tempo passar. E ele corria. Aulas e aulas que poderiam ser repetidas, ela nem se importava. Queria mesmo que fossem. Manhãs de alegria e tardes de alegria. Noites de recordação. Já sabia andar por qualquer parte do que não mais era desconhecido.
Despediu-se no dia 22 de dezembro de 2010, no Teatro Mário Lago. Era preciso percorrer outros caminhos. O conjunto das estrelas havia acabado. Mas, repare, as constelações, elas não deixam de aparecer toda noite no céu. E era assim que amava. Uma luzinha voltava sempre a reacender o que havia sido atenuado. Alumbramento. Retornou quatro anos depois para redescobrir o brilho da vida e colocou de novo as reticências.
Seus olhos, hoje, conhecem todo o espaço e abraçam o Colégio inteiro, mas, por isso mesmo, o que cresceu desmesuradamente foi o amor pela Instituição. E é ele, agora, o que, apesar de caber no olhar, transborda no coração.
Cento e setenta e sete anos. Obrigada, Pedro II.