A primeira rua que passou por ele foi a Lopes Quintas: chorando pra Pixinguinha, Vinicius conheceu a Gávea. Morou na Voluntários da Pátria, caminhou por Dona Mariana e fez do Botafogo, além do seu segundo bairro, o time pelo qual torceu. Esteve na praia da Ilha do Governador e sentiu saudades dela depois, amou a Tijuca e as Laranjeiras, bebeu em Copacabana, apaixonou-se em Ipanema, andou pelo Leblon e tornou a beber e a apaixonar-se em muitos outros cantos do Rio.
O Catete passou por Vinicius no início da década de trinta. Lendo os escritos de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Valéry, Dostoievski e Lawrence, deu-se conta de que as discussões são bem mais interessantes quando ocorrem nos bares dos arredores da Faculdade de Direito. O caminho para a distância foi traçado e o poeta passou a transformar suas angústias em versos. Conheceu o samba, embriagou-se nos botecos do Centro e, assim como Noel Rosa, percebeu que seu lar era o botequim.
Tornou-se parceiro de Tom Jobim no Villarino, dividiu a mesa do Vermelhinho com Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, ficou bêbado no Lamas e no Juca's Bar, observou a garota de Ipanema passar em frente ao Veloso, tomou muito uísque no Antonio's e frequentou o Amarelinho com Otto Lara Rezende e Fernando Sabino. Acompanhou as palavras que Di Cavalcanti pintava enquanto juntos tomavam um porre de Strega e descreveu a Lapa de Bandeira a partir do que via e ouvia no apartamento do amigo, poeta e professor de literatura do Colégio Pedro II.
Entre os finais da década de cinquenta e o início da de sessenta, o poetinha encontrou a Bossa Nova, tendo Antônio Brasileiro como maestro soberano. Ao lado de Baden Powell, entregou os afro-sambas à música brasileira e afirmou que o amor só e bom se doer. Andou pelo mundo com Toquinho, produziu canções com Carlos Lyra e Edu Lobo, cantou com Caymmi e trocou cartas com Chico Buarque por causa de uma valsinha.
Cruzando esquinas e amando as mulheres e a boemia, foi vagabundo, camarada, da pesada, do pagode e do perdão. Diante dessas tantas coisas que ele pode inspirar, destaco sobretudo sua pergunta "Você que só ganha pra juntar, o que é que há, diz pra mim, o que é que há?", porque "Testamento" precisa ser lida e ouvida como um manual subversivo do nosso tempo de bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!). A vida, afinal, é pra viver e é pra levar.
Saravá!